Coceira, ardor, corrimento com cor, mudança de cheiro… Não é raro a nossa vagina dar sinais de que alguma coisa não vai bem por ali. Seria um desequilíbrio da flora vaginal? Uma infecção sexualmente transmissível (IST)? Preciso correr para o médico ou será que se resolve sozinho?
Conversamos com o médico José Maria Soares Júnior, chefe do departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, para esclarecer as principais dúvidas sobre as infecções mais comuns na ppk. É claro que só um médico poderá fazer o diagnóstico final e passar o tratamento adequado, mas se informar ajuda a lidar melhor com a situação.
Infecção urinária/cistite
Se você está indo ao banheiro com mais frequência e sentindo uma dorzinha ao urinar, pode ser que seja infecção urinária. Ela é causada por microrganismos que invadem o trato urinário, geralmente bactérias do trato gastrointestinal. “Sua principal característica é, ao urinar, sentir dor no finalzinho”, explica o especialista. É importante procurar ajuda assim que sentir os sintomas para evitar que as bactérias subam aos rins, agravando a situação.
Sintomas para ficar de olho:
- Dor ou ardência ao urinar
- Aumento da vontade de fazer xixi
- Desconforto porque bexiga não esvazia por completo
- Dor nas costas
- Febre
- Presença de sangue no xixi (casos mais graves)
Para tratar, o médico costuma prescrever antibióticos com base no tipo de bactéria e na gravidade da infecção. Analgésicos para aliviar a dor e a queimação também podem ser indicados em alguns casos. Além de beber bastante água para ajudar a eliminar as bactérias.
Mas o melhor mesmo é prevenir. José Maria orienta a fazer xixi após ter relação sexual para evitar que bactérias indesejadas invadam o trato urinário. Aliás, evite segurar o xixi em qualquer situação. Além disso, é importante manter a higiene da região da vagina e do ânus, sempre limpando de frente pra trás. E beber bastante água ajuda a eliminar as bactérias do trato urinário antes que causem problemas.
Candidíase
Aquela coceira interminável na ppk é conhecida de quase toda pessoa com vagina. Ela acontece quando o fungo Candida Albicans se multiplica em excesso. “A cândida faz parte da flora vaginal, mas um desequilíbrio pode ocorrer por estresse, por baixa qualidade de sono e outros fatores que afetam o sistema imunológico. Acontece principalmente no verão, que é quando muita gente fica com peças molhadas no corpo”, diz o especialista.
Os sintomas incluem:
- Coceira
- Corrimento branco e denso
- Vermelhidão e ardência na vulva
- Inchaço dos lábios vaginais
O tratamento da candidíase geralmente é feito com antifúngicos, que podem ser em cremes, supositórios ou medicamento oral. É importante seguir ele completo pelo tempo que o médico determinar, mesmo que os sintomas desapareçam antes. Para aliviar a coceira até a consulta médica, José Maria indica banhos de assento com camomila.
Manter uma boa higiene na região íntima é o melhor jeito de prevenir a candidíase – o que não significa exagero, pelo contrário: água e sabonete neutro na região da vulva é o ideal. Nada de duchas vaginais! Roupas apertadas criam um ambiente úmido, perfeito para a cândida se proliferar, então é melhor evitar. Prefira calcinhas de algodão, que deixam a ppk respirar, e, sempre que for à praia, leve uma segunda peça para não ficar de biquíni molhado.
Vaginose bacteriana
Essa infecção é bem comum em idade fértil. Também é causada por um desequilíbrio na flora vaginal, mas nesse caso é um aumento de bactérias, como a Gardnerella vaginalis. “O que faz com que os sintomas sejam mais intensos ou acentuados é a quantidade desses microrganismos”, comenta o médico, que revela que ela pode ocorrer junto com a candidíase.
Sintomas para se atentar:
- Corrimento acinzentado ou esverdeado
- Famoso “cheiro de peixe podre”, principalmente depois do sexo
- Coceira intensa na vagina
- Queimação ao fazer xixi
O tratamento é com antibióticos prescritos pelo médico e de novo vale aquela regrinha: seguir até o fim, mesmo que os sintomas desapareçam antes. A prevenção é igual a da candidíase.
Clamídia e gonorreia
A clamídia e a gonorreia são Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), ou seja, o contágio é por meio de relação sexual desprotegida. Mais um motivo para não abrir mão da camisinha. Ambas são causadas por bactérias (Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae, respectivamente) e podem afetar diversas partes do corpo, como os genitais, reto e garganta, mas nem sempre apresentam sintomas, o que é um perigo, porque fica mais difícil identificar. “Elas podem causar inflamação no colo do útero e, se não forem diagnosticadas de forma rápida, podem levar a infertilidade”, alerta José Maria.
Os principais sintomas são:
- Corrimento vaginal amarelado ou claro
- Dor ao urinar
- Dor abdominal inferior
- Dor durante as relações sexuais
- Sangramento entre os períodos menstruais
O tratamento precoce é essencial para evitar complicações e interromper a transmissão das infecções. Por isso, exames regulares são importantes. Ele é feito com antibióticos.
Tricomoníase
A tricomoníase também é uma IST, mas é causada por um protozoário, o Trichomonas vaginalis. “Os sintomas parecem o da vaginose, mas, às vezes, não dá sintoma nenhum”, diz o médico. Camisinha e exames regulares fazem a diferença na prevenção e o tratamento é feito com medicamentos antiparasitários.
Os sintomas são:
- Corrimento vaginal espumoso, amarelo-esverdeado e malcheiroso
- Coceira ou irritação vaginal
- Dor durante a relações sexuais
- Vermelhidão e inflamação genital