Cris Pàz diz por que mudou de nome e abandonou o Guerra - Mina
 
Suas Emoções / Reportagem

Cris Pàz: “Às vezes é preciso que alguém mude pra me lembrar que também posso”

Mudar de nome é loucura, bobagem ou a lembrança de que transformações são possíveis e bem-vindas? Cris conta a sua história e nos provoca a buscar o novo que nos completa

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Mudei de nome em 2022. Antes Cris Guerra, hoje Cris Pàz. Parece estranho, eu sei. Nada que se compare à esquisitice de adotar o sobrenome do marido, coisa que já fiz uma vez, sem pensar. Não troquei de família nem de gênero. Decidi que não sou mais Guerra, deixei o sobrenome descansar no anonimato e me casei com a Pàz, de papel passado e tudo.

Nunca tive um nome tão próprio. Nem imaginava que isso fosse possível. Até pensar. Até fazer. Pronunciar meu nome agora dá gosto, são só duas sílabas, parece respiração de ioga. Não cerro mais os dentes para o “guerra” e me pego até duvidando: fácil assim? Então lembro: é meu, está no RG e na certidão. Uma certidão de renascimento.

“Eu sei, minha transformação lembra que lhes falta a coragem para suas viradas”

Uns aplaudem, outros se preocupam, alguns ficam visivelmente incomodados. O novo nome é um transtorno, obriga a me realocar em outras caixinhas, vê se tem cabimento. De guerra para paz, de morena para grisalha, quem ela pensa que é? 

Eu sei, minha transformação lembra que lhes falta a coragem para suas viradas. Não é fácil engolir. Até entendo, já senti o mesmo. Eu tinha 20 e poucos anos quando uma amiga anunciou ter o montante pra dar entrada num carro. A mim soou como ofensa. Então era mentira, sempre me disseram que era difícil demais comprar um carro. Não era, mas acreditei.

Décadas depois, um amigo se mudou pra Bahia com a mulher e as filhas. Na festa de despedida, me embriaguei entre a torcida e a inveja. Ele era publicitário, hoje esculpe utensílios em madeira, milhares de seguidores no instagram. Lapidou em mim o que jamais supus existir.

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“Eu gosto do impossível porque lá a concorrência é menor”, disse Walt Disney. É impossível até que alguém o faça. E a gente não se conforma por não ter pensado nisso antes.

O movimento do outro remete à minha imobilidade. Lembra-me do que sou capaz de fazer. Às vezes é preciso que alguém mude pra me lembrar que também posso. E posso mesmo. 

Há 12 anos, deixei um bom salário e carteira assinada com um bebê pequeno pra cuidar. Fui experimentar a vida de autônoma, nunca mais voltei. Lembro da minha voz trêmula comunicando a decisão pra a diretora da agência e mais ainda se sua reação: “Demorou”, ela disse. Aos olhos dos outros, eu já estava pronta. Alguém precisava me dizer. 

Quanto mais velha fico, maior é meu gosto pelas mudanças. Meu corpo envelhece, mas não o meu olhar. O medo vem, mas eu invento outro nome pra ele. Prefiro chamar de frio na barriga.

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