Quem disse que temos que ser uma coisa só?
Carol Dieckmann questiona as caixinhas criadas para as mulheres: “experimenta colocar mais de duas qualificações pra te definir? É como se uma, ao invés de somar, diminuísse a outra”
Dia desses, numa reunião de rebranding pra pensar sobre o que de fato eu sou – e o que quero ser – no campo virtual, me pediram uma palavra que fosse forte o suficiente pra exprimir esse momento… não soube responder.
Me sentindo perdida diante da equipe de meninas que vem me acompanhando nesse processo, uma delas, num rompante que mais parecia um bote salva-vidas, sussurrou “múltipla” e não só restabeleceu minha respiração, como aquela expressão me serviu como uma luva. De fato essa palavra explica muita coisa. E não só de mim… Múltiplas, somos todas.
Sempre me senti muito cobrada a ter uma resposta que me definisse, como se fosse possível ser só atriz, ou estudante, ou ginasta… e depois, ser só mulher do cara que eu amo, ou mãe dos filhos que tenho…
Vivo numa alternância de estímulos tentando decifrar o que é essencial. Parece loucura, mas é necessidade.
Pessoas são tantas coisas, mas num release ou qualquer perfil que tenha a pretensão de te apresentar, experimenta colocar mais de duas qualificações… é como se uma, ao invés de somar, diminuísse a outra.
Então, pra me usar de exemplo, bora adicionar escritora, artista plástica, cantora… e produtora, que não gosto mas preciso… afinal alguém tem que botar todos esses pratinhos pra rodar, né?
É claro que não dá pra ser tudo ao mesmo tempo. Vivo numa alternância de estímulos e inspirações tentando decifrar o que é essencial e também o momento certo de me entregar a cada coisa que eu inventei de ser. Parece loucura, mas é necessidade. Quando se escolhe seguir o coração, costuma dar mais trabalho mesmo!
Sei que muitas vezes sou mal interpretada; porque não fazer o que se espera de mim e ir além, é duro, difícil… E me pergunto se não estaríamos todas vivendo num transe coletivo e desesperado pra se livrar da jaula que nos cerca e, ao mesmo tempo, lutando sozinhas, cada uma por si, como se a guerra não fosse a mesma para todas.
Que mulher no mundo de hoje não está tomada de um desejo imenso de ser cada vez mais? E, ao mesmo tempo, exausta de ter que explicar o que não se explica, porque pra saber é preciso viver antes. Porque é revolução. O que a gente quer não é regra, é exceção.
Não sei se tudo isso que estou falando tem algum caminho ou solução; só sei que é preciso ir… Sinto constantemente que há algo novo surgindo, acontecendo, mas que é a gente que tá fazendo, e não dá tempo de elaborar junto.
Não sei se você também sente isso, mas eu não tenho dúvida de que seja lá o que for, cada uma de nós, a seu modo, no seu jeito e tempo, está fazendo uma parte. Como abelhas que trabalham juntas, cada uma com o seu papel… e quando a colmeia estiver pronta, ao olhar pro lado, nos reconheceremos.