O corpo feminino como ato político e de celebração à própria liberdade no Carnaval
Em ritmo de folia, nossa colunista Dandara Pagu reflete sobre a importância de subverter a forma como a nudez feminina é encarada na sociedade patriarcal, mesmo que seja durante um cortejo
“Carnaval é a maior e mais forte manifestação que eu vivo desde criança”, declara Dandara. Nossa colunista cresceu em Pernambuco rodeada pela força coletiva e política da festa. Isso a motivou, inclusive, a criar seu próprio bloco, o Vaca Profana, em que as mulheres saem de peito de fora em uma celebração ao próprio corpo, um grito de liberdade.
Ela conta como tudo surgiu. “Teve um ano que me fantasiei de vaca profana em homenagem à música que Caetano fez pra Gal, com uma hot pants de vaca, o peito coberto de glitter e uma máscara. Um policial foi violento comigo porque eu estava sem camisa, queria me prender”. A situação ocorrida nas ruas de Olinda deu um click em sua cabeça. “Ali percebi o quanto a mulher não tem domínio sobre o próprio corpo. Se ela quer mostrar, é desrespeitada, pode ser violentada. Mas se a sociedade, o patriarcado, o homem em si quer mostrar para vender um produto ou ser objeto, aí pode”.
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Acostumada a usar as violências que enfrenta e transformá-las em algo menos doloroso, Dandara decidiu transformar esse episódio em um bloco. “No ano seguinte, saíram 7 meninas, depois cem, hoje em dia saem mais de 5 mil mulheres sem blusa. É um momento onde a gente usa o corpo como ato político e consegue se libertar por algumas horinhas dos julgamentos estéticos, sociais, patriarcais de um modo geral.”
Quer participar? Vai ter cortejo e baile em São Paulo no próximo dia 11. Em Olinda, o Vaca Profana sai dia 20, no Carnaval. Mais detalhes na página do bloco.