Rita Guedes: “A sociedade vê uma mulher sozinha como defeito” - Mina
 
Seu Corpo / Arquivo Pessoal

Rita Guedes: “A sociedade vê uma mulher sozinha como defeito”

Solteira, sem filhos e muito bem resolvida com isso, a atriz fala como é envelhecer com o rótulo de símbolo sexual e garante que, a despeito do que a família ou o mundo esperavam, sempre fez (e seguirá fazendo) tudo do jeitinho que quer

Por:
8 minutos |

Desde a estreia na televisão, Rita Guedes é vista como símbolo sexual. No começo, estranhou o assédio exagerado dos fãs, mas com o tempo se acostumou e até passou a curtir. Ela sabe que esse rótulo de sex symbol lhe trouxe bons papéis, aos quais ela se agarrou e entregou muito mais do que um corpo bonito, dando características únicas às personagens e conquistando o público mesmo interpretando a malvada. 

Natural de Catanduva, interior de São Paulo, Rita sempre foi obstinada. Quis ser modelo, e modelou, quis jogar futebol e jogou, quis ser atriz e atou. Quem não gostava muito eram seus dois irmãos mais novos, que sempre acabavam cedendo ao que Rita queria. 

A atriz começou no teatro aos 9 anos anos e aos 14 começou a se profissionalizar. Seguiu os passos da mãe, atriz de rádio. Da avó ela conta que herdou a liberdade para fazer o que bem entende. “Minha avó separou do meu avô com três filhas pequenas em uma época em que a mulher separada era muito mal vista. E com a costura ela sustentou todo mundo”, conta. Aos 30 anos Rita começou a ouvir as perguntas de sempre: “quando vai casar?”, “e os filhos?”, mas nunca deu muita bola. Hoje, aos 52 anos, solteira e sem filhos, ela já não se abala com as cobranças e garante que fez tudo do jeitinho que sempre quis.  

Através de 6 fotos ao longo da vida, Rita fala sobre pressão social, fama, menopausa e futuro.   

Ao lado dos dois irmãos, aos 7 anos | Arquivo Pessoal

“Era uma goleira disputada entre os times”

Com referências de mulheres fortes e à frente do seu tempo, Rita cresceu com referências de liberdade.  “Minha avó separou do meu avô com três filhas pequenas em uma época em que a mulher separada era muito mal vista. E com a costura ela sustentou todo mundo”. Na foto, aos 7 anos, usa uma fantasia de Mulher Maravilha que foi costurada pela avó, que faleceu recentemente aos 95 anos. “Primeiro ela fazia minhas fantasias, depois meus figurinos”, lembra. 

Nascida e criada em Catanduva, interior de São Paulo, a atriz conta que cresceu brincando no meio do mato, subindo em pé de manga e cuidando dos bichos na fazenda dos avós ao mesmo tempo em que desfilava em concursos infantis. “Eu era moleca, por ter dois irmãos, acabava brincando mais com os meninos. Jogava futebol, e era uma goleira disputada entre os times”, conta.  A brincadeira de modelo era com as amigas e tinha contornos de coisa séria. “Eu parei quando comecei no teatro”, diz. 

Aos 10 anos em sua festa de aniversário | Arquivo Pessoal

“Sempre fui obstinada e fiz as coisas que eu queria”

 Determinada desde pequena, Rita conseguia tudo que queria. Desde a festa de aniversário (foto) que fez com o irmão, mas foi tudo do seu jeito, até usar as roupas decotadas que gostava. “Sempre fui obstinada e fiz as coisas que eu queria”, diz. A mãe, sempre insistiu que a filha vestisse roupas mais fechadas, mas Rita teimava e lá estava ela com o corpo à mostra. “Eu gostava de coisas diferentes, barriga de fora, saia curta, ombro à mostra”. 

Apesar da diferença no vestir, a veia artística Rita puxou da mãe, que era atriz de rádio. “Tive essa liberdade de escolher o teatro desde cedo, o comecinho foi com 9 anos”.

Na escola, Rita sentia o peso de ser diferente. “Era a ovelha negra das minhas amigas”, conta. E ao entrar para o teatro, foi escanteada pelos amigos da classe. “Tínhamos vários cursos extracurriculares e eu passei a não ser incluída”, diz. Mas no palco ela achou sua turma.

Aos 14 anos, desfilando em Catanduva | Arquivo Pessoal

“Brigava e me defendia, mas não compartilhava com ninguém sobre as ofensas”

Na adolescência, a atriz se incomodava com a magreza do próprio corpo. “Demorei para ter peito, coxa e bunda como as minhas amigas”, diz. E apesar disso favorecer a participação nos desfiles, na escola ninguém via graça. “Comecei a usar duas calças para não ser chamada de Olívia Palito”, conta. Na época, Rita não compartilhava seu sofrimento com os pais. “Brigava e me defendia, mas não compartilhava com ninguém sobre as ofensas”, diz. 

Foi a entrada no teatro que mudou tudo. Ali Rita viu que não tinha problema nenhum em ser magra, ou gorda ou diferente. “Você via de tudo no teatro, preta, branca, ruiva, magra, gorda e ninguém falava nada a respeito disso. Foi ali que comecei a desencanar desse negócio do corpo”, diz. 

Aos 20 anos com as colegas da televisão | Arquivo Pessoal

“Ser sexy symbol me trouxe grandes personagens”

Na TV, Rita começou logo em uma novela que marcou época, “Despedida de Solteiro”, da TV Globo no início dos anos 90. “Eu fazia uma personagem que amei, ela era um pouco vilãzinha, mas caiu no gosto do povo”, lembra. A atriz conta que teve o apoio de todo o elenco em sua estreia e fez amizades que duram até os dias de hoje. “Fui muito bem recebida e amparada na TV”, diz. 

Numa época em que não havia streaming e nem internet, toda a atenção do público era para televisão – para o bem e para o mal. “Lembro de sair na rua e ser agarrada, rasgaram minha roupa. No começo, fiquei assustada, mas depois soube lidar e até comecei a gostar da resposta do público”, conta. Rita conta que nunca se incomodou com papéis que tinham traço sexy. “Ser um sex symbol me trouxe grandes personagens. Meu desafio foi encontrar sempre alguma peculiaridade nelas e dar um tom especial, seja de drama ou de humor”, conta. 

Mesmo magra e sempre em forma, Rita confessa que, na tv, sofreu uma pressão para manter um corpo padrão. Hoje, já não se abala, mas gosta de cuidar da saúde. “Me alimento bem para não ficar doente, viver mais tempo e ter mais saúde e qualidade de vida. Faço yoga e musculação”. 

Aos 35 anos, como o único namorado com quem quis casar | Arquivo Pessoal

A sociedade não está preparada para mulheres que não querem ser mães”

A atriz não se abalou ao chegar nos seus 30 anos e, confessa, que amava ser chamada de senhora. “Nunca foi um problema ser vista como uma mulher mais velha”, diz. O que mais a incomodou foi a pressão pela maternidade, tanto da família quanto dos próprios fãs. “A sociedade não está preparada para mulheres que não querem ser mães, ou que decidem ser mães mais tarde. Sim, porque posso ser mãe a hora que eu quiser, não é sobre gestar”, diz. A atriz faz uma comparação entre homens e mulheres nessa idade. “O homem de 30 é visto como o solteiro cobiçado. A mulher, não, se está sozinha, a sociedade vê como um defeito”, desabafa. 

Na foto, Rita está com George, um ex-namorado que foi seu grande amor. “Ele sempre me aceitou como eu era, e eu aceitava ele também. Foi o único cara com quem eu quis casar. Tivemos um namoro de muitas idas e vindas, e quando estávamos construindo uma casa, ele fez a passagem dele”, diz. A atriz conta que a morte do companheiro a ensinou muitas coisas. “Não deixo nada para amanhã e dou ouvidos às minhas vontades de hoje”, diz. 

Aos 52 anos, pronta para viver os novos papéis que a atuação vai lhe trazer | Arquivo Pessoal

“As pessoas não falam sobre a menopausa, porque há preconceito em envelhecer”

Rita começou a sentir os primeiros sintomas da menopausa aos 50 anos, mas lidou com certo desapego. “As pessoas não falam sobre a menopausa, porque existe um preconceito em  envelhecer”, diz. Logo começou a fazer reposição hormonal e sentiu que tudo voltou ao normal. “É importantíssimo checar seus próprios hormônios, olhar pra isso”, diz. 

A preocupação de Rita é envelhecer com saúde física e mental, e pra isso ela investe no seu tempo com a natureza, em fazer yoga e meditar, prática que realiza desde os 20 anos. Ao chegar aos 50 anos, vê a velhice somente com uma mais uma etapa na vida. “Acho que quando envelhecemos, damos mais valor a quem a gente é”, diz. E assim, ela garante que está preparada para a nova etapa da carreira. “Sei que minha idade vai me levar a outros papéis e eu quero eles. O que não dá é pra ficar parada”, diz. 

Mais lidas

Veja também